sábado, março 22, 2003

No site Primeiras Edi��es do Jornal Expresso, publicado no dia 28 de Outubro de 2000, est� um texto interessant�ssimo do Fernando Madrinha que eu passo a citar.

O �Big Brother�, o Benfica e a morte do jornalismo

O JORNALISMO portugu�s vive uma fase cr�tica. E n�o vale a pena fingir que nada acontece, para disfar�ar comportamentos de profissionais e de empresas - ou dos seus respons�veis editoriais - que, se n�o forem corrigidos, h�o-de conduzir a uma descredibiliza��o veloz da honrada profiss�o de informar, se n�o mesmo ao fim dela. A import�ncia que a comunica��o assume nos dias de hoje alargou e fez prosperar um vasto campo de actividades e neg�cios paralelos ao jornalismo que nada t�m que ver com ele, mas se confundem e o influenciam num abra�o de morte.
� o caso dos muito requisitados assessores e adjuntos de imprensa, que circulam sem regra entre os corredores dos poderes p�blicos e as salas de redac��o, ora trabalhando abertamente para um ministro no seu gabinete, um empres�rio no seu escrit�rio, um sindicato, uma ordem ou outra organiza��o socioprofissional na sua sede, ora servindo-os disfar�adamente, mas com o mesmo denodo, na redac��o do jornal ou da r�dio para onde regressam depois de uma comiss�o de servi�o.
� o caso do jornalista que hoje escreve not�cias e reportagens, amanh� faz uma incurs�o na pol�tica, no dia seguinte vende a sua imagem para publicitar um banco ou um detergente e, num outro dia, volta � profiss�o de origem como se nunca a tivesse deixado.
� o caso da prolifera��o acelerada e do enriquecimento s�bito das chamadas empresas de comunica��o e imagem, que controlam a informa��o relativa aos seus clientes - seja um ministro, um autarca, um grupo econ�mico ou uma associa��o comercial -, ora dificultando e impedindo os jornalistas s�rios e empenhados de chegarem �s suas fontes ora promovendo apenas a informa��o conveniente e controlando os passos dos menos escrupulosos, sabe Deus por que meios e com que argumentos, eventualmente corruptores.
Nada disto � novo. Resulta dos males do tempo: a fragilidade dos princ�pios, a atrac��o dos poderes, a for�a do dinheiro, o desrespeito pontual ou sistem�tico por normas reguladoras - que at� existem, na maior parte dos casos -, a falta de vontade ou de firmeza dos poderes p�blicos e das organiza��es de classe para as fazerem cumprir, tanto aos profissionais como �s empresas.
Mas neste dom�nio da instrumentaliza��o dos �media� e dos seus profissionais - com a pressuposta aceita��o, se n�o mesmo o empenho militante de alguns deles e a complac�ncia dos seus �rg�os representativos -, o pa�s tem vindo a assistir a uma escalada que augura o pior e da qual se destacam dois exemplos das �ltimas semanas. Por um lado, a confus�o deliberada entre informa��o e entretenimento, que est� bem patente na forma como o principal jornal da TVI tem vindo a tratar e promover o programa �Big Brother�. Por outro lado, o alinhamento descarado da mesma TVI e da SIC com cada uma das candidaturas � presid�ncia do Benfica, fazendo campanha aberta - a TVI por Vilarinho e a SIC por Vale e Azevedo - sob o capa de informa��o isenta e desinteressada.
Na cobertura jornal�stica transmitida pelas duas esta��es, feita por jornalistas e, na apar�ncia, segundo crit�rios de mero interesse jornal�stico, era dif�cil distinguir a informa��o da propaganda. E os alinhamentos das mat�rias noticiosas confirmavam em absoluto a prefer�ncia por uma candidatura, n�o apenas em detrimento da outra, mas contra a outra, o que poderia at� aceitar-se - embora seja sempre sempre discut�vel em televis�es generalistas -, se a esta��o tivesse informado previamente que ia tomar partido.
A propaganda disfar�ada de not�cia, ou a not�cia ao servi�o de estrat�gias empresariais estranhas � pr�pria informa��o, equivale a explorar a boa f� do consumidor e � um embuste que s� pode prejudicar o jornalismo e a imagem daqueles que o produzem. Se persistirmos em contemporizar com tais procedimentos estaremos a comprometer a confian�a, a p�r em causa a credibilidade e a aceitar, a prazo, a morte do jornalismo como profiss�o, com regras de trabalho e princ�pios deontol�gicos muito pr�prios e bem definidos. Na televis�o, em especial, o lugar dos jornalistas ser� progressivamente tomado pelos comunicadores indiferenciados, t�o aptos a redigir ou apresentar uma not�cia, como um �script� de propaganda, como um programa de anima��o, como um �spot� de publicidade. Tudo em nome desse valor supremo que s�o as audi�ncias e por ordem desse �Grande Editor� que s�o os �shares�.


Qualquer semelhan�a com a realidade, � pura coincid�ncia (digo eu)...
Nunca como agora, com a guerra do Iraque, se questiona at� quando o jornalismo vai prevalecer.
Qualquer coment�rio, � s� clicar l� em cima.

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