terça-feira, julho 22, 2003

Carlos Alberto Di Franco

Intitulado "Repensar os jornais", Carlos Alberto Di Franco, director do Master em Jornalismo para Editores e professor de �tica Jornal�stica, publicou o seguinte texto na sec��o de opini�o do site da Globo.

Ben Bradlee, o carism�tico ex-diretor do "The Washington Post", � sempre uma palavra que merece ser ouvida. Segundo Bradlee, "um grande editor � algu�m capaz de atrair bons profissionais para trabalhar no jornal. � algu�m que sabe como encorajar talentos e despertar o melhor nas pessoas. � como um t�cnico de um time". O coment�rio, apoiado na for�a persuasiva da simplicidade, resume todo um programa de recursos humanos para as reda��es.

Os recursos humanos s�o, de fato, a pe�a-chave de uma empresa informativa. O tempo e o dinheiro gastos em atrair, formar e aperfei�oar os melhores
profissionais s�o um investimento extremamente rent�vel. O gerenciamento de uma reda��o � muito mais do que uma atividade de coordena��o editorial. � a
fascinante capacidade de promover talentos. Os bons editores, assim como os grandes maestros, sabem que a beleza de uma sinfonia n�o depende de um g�nio solit�rio, mas de uma fina solidariedade de talentos.

Bradlee, um editor formado numa �poca de ouro do jornalismo impresso, n�o conseguiu, no entanto, captar as reais conseq��ncias do avan�o da internet.
A se��o dos classificados, por exemplo, nicho tradicional da m�dia impressa, precisa ser repensada com urg�ncia e ousadia. Caso contr�rio, ser� engolida
pelas facilidades oferecidas pela internet. A cultura virtual, queiramos ou n�o, � um fato. Os jovens s�o navegantes compulsivos do ciberespa�o. Mas os
jornais s� conquistar�o essa importante fatia do mercado se efetivamente perceberem que os seus sites n�o podem ficar reduzidos � simples reprodu��o
virtual do seu conte�do impresso. O jornalismo na internet pressup�e uma profunda revolu��o nos conceitos, na forma e no conte�do da informa��o.
Exige, ademais, equipes especializadas e bem formadas na cultura do jornalismo on-line.

Bradlee percebeu que o jornal pode ser imbat�vel na cobertura local. Segundo ele, a TV e a internet est�o um pouco "ausentes no notici�rio local, sobre o
que est� acontecendo na comunidade em que as pessoas vivem. E esse � um mercado important�ssimo para n�s". Tem raz�o. A globaliza��o est� produzindo um fen�meno curioso: quando tudo � (ou pretende ser) transnacional, o local ganha enorme import�ncia. As pessoas est�o carentes de v�nculos pr�ximos. O leitor quer saber o que acontece na sua cidade, no seu bairro, no seu quarteir�o. O consumidor real, n�o o de proveta concebido no ambiente rarefeito das reda��es, quer saber em que medida o global pode afetar o seu dia-a-dia e, como � l�gico, o seu bolso. Quer uma �gil e moderna presta��o de servi�os. Consult�rios ou se��es de respostas nas �reas de sa�de, direito, aplica��es financeiras e inform�tica, por exemplo, s�o um sucesso em todo o mundo.

Ben Bradlee, formado na escola dos antigos editores, mant�m excessiva dist�ncia dos leitores. N�o acredita nas pesquisas de opini�o e imagina que
a postura vertical � a mais recomend�vel para o relacionamento do jornal com o seu p�blico. "Os leitores podem n�o querer ver no jornal o tipo de
informa��o da qual precisam. E podem n�o querer o que voc� acha que eles deveriam receber", sublinhou. Um bom jornal, por �bvio, n�o pode ficar ref�m
do mercado. Precisa, freq�entemente, tornar interessante o que � realmente importante. Mas um jornal de qualidade n�o pode viver de costas para o
leitor. Os jornalistas precisam escrever para os leitores e n�o para os colegas. O jornal precisa ter a s�bia humildade de moldar o seu conceito de
informa��o, ajustando-o �s aut�nticas necessidades do p�blico a que se dirige. Quando jornalistas e editores, entrincheirados e hipnotizados pelas
telas dos computadores, n�o v�o � luta, as reda��es se convertem em centros de simples processamento de informa��o pasteurizada. O lugar de rep�rter � a rua, garimpando a informa��o, apurando, prestando servi�o ao leitor.

O jornalismo de qualidade reclama atualiza��o, treinamento, inova��o e �tica. Fora disso � o vazio. E n�o h� anabolizante que resolva.

Dica de Ana Beatriz Mansur


Eu comento: Para que possa haver essa actualiza��o, treino, inova��o e �tica, que Carlos Alberto Di Franco fala � necess�rio haver um maior investimento e uma maior sensibilidade por parte dos respons�veis que est�o � frente dos �rg�os de comunica��o social. No entanto, ser� que eles est�o dispon�veis a fazer esse investimento, em prol dos lucros?

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