sexta-feira, abril 18, 2003

Este texto serviu de base � minha tese de P�s-Especializa��o que tirei na Universidade Lus�ada do Porto sobre Jornalismo, Comunica��o e Internet. Aguardo os vossos coment�rios.

O FIM DO JORNALISMO?

O Estatuto do Jornalista est� consagrado na Lei n.� 1/99 de 13 de Janeiro e, no artigo 1� do Cap�tulo I, define-se o Jornalista como sendo �aquele que, como ocupa��o principal, permanente e remunerada, exerce fun��es de pesquisa, recolha, selec��o e tratamentos de factos, not�cias ou opini�es, atrav�s de texto, imagem ou som, destinados � divulga��o informativa pela imprensa, por ag�ncia noticiosa, pela r�dio, pela televis�o ou por outra forma de difus�o electr�nica�. No n.� 2 do mesmo artigo refere-se que n�o constitui actividade jornal�stica, �o exerc�cio de fun��es referidas no n�mero anterior, quando desempenhadas ao servi�o de publica��es de natureza predominantemente promocional, ou cujo objectivo espec�fico consista em divulgar, publicar ou, por qualquer forma, dar a conhecer institui��es, empresas, produtos ou servi�os, segundo crit�rios de oportunidade comercial ou industrial�.
No nosso pa�s, os jornalistas portugueses regem-se por um C�digo Deontol�gico que aprovaram em 4 de Maio de 1993, numa consulta que abrangeu todos os profissionais detentores de Carteira Profissional. O texto do projecto havia sido preliminarmente discutido e aprovado em Assembleia Geral, realizada em 22 de Mar�o de 1993.
Ultimamente, tem-se assistido a uma discuss�o que passa por saber se, de facto, o jornalismo e os jornalistas t�m o seu futuro assegurado ou, pelo contr�rio, t�m os seus dias contados. Na era da inform�tica e das novas tecnologias, come�a-se a confundir o Jornalista com o Fornecedor de Conte�dos e vice-versa. Acima de tudo, quer o jornalista, quer o fornecedor de conte�dos s�o comunicadores; s�o pessoas a quem cabe a dif�cil tarefa (por vezes), de levar a um determinado p�blico, a sua informa��o. O que distingue um do outro, � a forma como essa informa��o � tratada e levada ao p�blico. Por outro lado, saber se o fornecedor de conte�dos se pode �tornar� num jornalista, � outra das quest�es.
A mediatiza��o dos acontecimentos � outro dos aspectos que se tem que ter em conta, uma vez que, para um determinado assunto ter interesse e ser comentado e/ou falado na/pela sociedade, ele deve criar impacto. Isto, sem falar no �Agenda Keeping�.
No meio de tudo isto, gira um, chamemos-lhe poder que, na maioria das vezes, o p�blico em geral n�o pensa que existe; se pensa e se sabe que ele existe, ou n�o lhe atribui import�ncia, ou n�o quer saber disso para nada: refiro-me ao dinheiro, ao factor econ�mico.
Verdade seja dita, tudo gira em torno do dinheiro. Os jornalistas e/ou os fornecedores de conte�do, mais n�o s�o do que meros funcion�rios de uma empresa que, no final do m�s, lhes tem que pagar o ordenado. Os �rg�os de comunica��o social, sejam eles quais forem, mais n�o s�o do que meras empresas, cuja finalidade � a de obterem lucro. E, para obterem esse lucro, t�m que vender o seu produto: informa��o, entretenimento, ou qualquer outro. A forma como se obt�m esse lucro e/ou como � transmitido esse programa � que faz a diferen�a entre um jornalista e um fornecedor de conte�dos.
Ao olharmos para a Hist�ria, n�o s�o poucos os exemplos que podemos citar e que comprovam isso mesmo. Quando apareceu a r�dio, os jornais temeram pelo seu fim; quando apareceu a televis�o, os jornais e a r�dio pensaram que iam fechas as suas portas; com o aparecimento da Internet, os jornais, as r�dios e as televis�es, come�am a questionar-se at� que ponto ser�o substitu�das por esta. Ser� a Internet o futuro da informa��o e, por conseguinte, a �assassina� dos jornais, das r�dios e das televis�es? Ou ser� a Internet mais um motor de busca, onde tudo se encontra e que pode auxiliar os jornais, as r�dios e as televis�es?
O tradicional jornalista de imprensa � aquele que, de bloco de papel em punho, se aventura na busca de uma hist�ria; o jornalista de r�dio � aquele que, de gravador e microfone, se aventura, tamb�m, na busca de uma hist�ria; o jornalista de televis�o � aquele que, de microfone e c�mara de filmar, se aventura na busca de uma outra hist�ria. O fornecedor de conte�dos aventura-se, claro, na busca de uma hist�ria, munido de um bloco de folhas de papel, gravador, microfone e c�mara de filmar. Com todo esse material, pode fazer tudo aquilo que os outros tr�s fazem: escreve a not�cia para o jornal, transmite-a na r�dio e na televis�o e, ainda, difunde-a na Internet, por exemplo, atrav�s de v�deos multim�dia e, utilizando os mesmos textos que escreveu para o jornal.
Assim, no futuro pr�ximo, ser� que o jornalista e o jornalismo ir�o desaparecer? Ou, pelo contr�rio, ser� o conceito de jornalista e de jornalismo (que existe e tem existido at� hoje), que ir� acabar?
Veja-se, por exemplo, o caso da NTV. O jornalista, muitas das vezes, j� n�o sai em reportagem acompanhado de um rep�rter de imagem; ele entrevista, recolhe todas as imagens e todos os factos e, chegado � redac��o, ele edita a sua pe�a, monta-a e faz o seu grafismo. Tudo sozinho.
Para al�m disso, o dinheiro fala muito alto; por vezes, alto demais, dentro de um �rg�o de comunica��o social. A luta, hoje, j� n�o � a de quem tem o melhor �furo� jornal�stico ou quem tem os melhores contactos. A luta, hoje e no futuro, ser� a de saber quem tem maior audi�ncia, quem � mais lido, mais ouvido e mais visto. Nesse sentido, a busca de temas medi�ticos � porque s�o esses temas aqueles que a sociedade mais quer ver �, fazem com que, muitas vezes, se deixem de lado conceitos importantes como a integridade, a isen��o, o rigor, ou a credibilidade. Em nome do vale tudo e mais alguma coisa, desde que isso traga mais dinheiro e mais share, existe de tudo na comunica��o social. O querer subir mais depressa, o querer ser notabilizado dentro dos seus pares, o querer ser o melhor, por vezes, consegue-se da pior das formas, descurando-se os valores que regem o que deve ser um jornalista e qual deve ser o seu papel, na busca da informa��o.
Dessa forma, alguns defendem que o que tende a acabar � o bom jornalismo. Mas tamb�m se compreende porque, por muito que se goste do que se faz, � complicado fazer, muitas vezes, tantos sacrif�cios pela profiss�o... e, no fim, ser-se t�o mal remunerado. Existe tamb�m um crescer de mau jornalismo, ou pseudo-jornalismo, que � a procura incessante da pol�mica, das picardias, da especula��o. N�o basta o assunto em si ser medi�tico; � necess�rio, por vezes, vir-se para a pra�a p�blica lavar a roupa alheia. Para al�m disso, muitos s�o os �rg�os de comunica��o social que, frequentemente, recorrem ao �copy� e aos �paste� de outros �rg�os ou de ag�ncias noticiosas. Basta pegarmos num qualquer jornal e, ao lado da assinatura do jornalista, o asterisco remete-nos para fim do texto onde est� escrito �com ag�ncias�.
Jornalismo �, em �ltima inst�ncia... informar; e isso vai ter sempre raz�o de existir, seja qual for o nome que se lhe der, ou seja qual for a sua forma. Mas, qual ser� o conceito que vigorar�, nos pr�ximos anos?



Sem comentários: