O admir�vel novo jornalismo
Uma revolu��o silenciosa est� a ocorrer na imprensa, h� j� algumas d�cadas e o seu culminar n�o est� longe. Trata-se do fim do jornalismo tradicional e o surgimento de um h�brido que incorpora mecanismos da publicidade, bem como do entretenimento.
N�o vem ao caso, aqui, se as publica��es t�m cada vez mais an�ncios, se utilizam recursos superficiais da forma publicit�ria ou se est�o menos cr�ticas em rela��o a certos processos, produtos e personalidades, tornando-se assim agentes indiretos de divulga��o.
O que interessa � apontar como a publicidade, com as suas normas e sistemas para vender um produto, se infiltrou nos organismos jornal�sticos e transformou a imprensa em outra coisa: em "publijornalismo", para cunhar um neologismo provis�rio.
Essa muta��o presume que todos os elementos morais ou transcendentes agregados ao jornalismo ao longo da sua hist�ria j� se extinguiram ou est�o em via de chegar ao fim. Ou seja, presume que o jornalismo j� n�o se alimenta dos chamados valores superiores por meio dos quais ele se colocava como consci�ncia da realidade e fazia da pr�pria realidade um objecto que devia decifrar.
No interc�mbio realidade-jornalismo, o leitor ocupava o lugar de espectador passivo, sobre o qual a imprensa exercia um poder de influ�ncia, den�ncia ou esclarecimento. Eram sobretudo os leitores que aderiam aos jornais, e n�o vice-versa. A ades�o do leitor �s publica��es era de feitio ideol�gico (fossem as publica��es pluralistas ou n�o) ou de gosto e posi��o de classe (fossem de elite ou populares).
O jornalismo p�de-se manter, assim, no bojo do capitalismo (que, ali�s, lhe deu a configura��o primordial), como um produto excepcional: nem tanto mercadoria nem tanto cultura, mas uma mercadoria ideol�gica.
Admir�vel meio novo, o "publijornalismo" n�o v� no que faz outra coisa sen�o um produto. A no��o de mercadoria � generalizada dentro das publica��es e atinge todos os seus processos, mesmo os que dizem respeito �s iniciativas de cr�tica, de explica��o, elucida��o, investiga��o ou contesta��o pr�prias da imprensa.
O "publijornalismo' s� contesta, elucida ou investiga porque est� vendendo um melhor produto e vendendo a si mesmo o tempo todo, e n�o porque julga, como seu antepassado (o jornalismo), que estar� tamb�m influindo numa determinada realidade ou cumprindo um papel cultural ou ideol�gico numa sociedade.
A informa��o como produto, puro e simples, n�o significa que o valor simb�lico da not�cia tenha sido abandonado: o pr�prio conte�do passou para a escala do consumo, e o acontecimento tornou-se apenas uma mercadoria aos olhos da rede universal do "publijornalismo" e sua espectaculariza��o da realidade.
A imprensa ainda vive essa situa��o como um problema, mas logo o drama chegar� ao fim.
quinta-feira, janeiro 02, 2003
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