quarta-feira, janeiro 22, 2003

O JORNALISTA, ESSE INCOMPREENDIDO
por Cesar Valente, jornalista brasileiro e professor de jornalismo

A decis�o definitiva (em primeira inst�ncia) da ju�za que odeia jornalistas n�o me surpreendeu. Era natural que ela confirmasse sua decis�o provis�ria. O que me surpreende todos os dias, desde 1972, ano em que comecei a pensar no jornalismo como profiss�o, ano da minha primeira assinatura na carteira de trabalho, como redator em um jornal, � a falta de no��o que a maioria tem sobre o que um jornalista faz e o que faz um jornalista.

Nunca fiz outra coisa na vida e dentro da profiss�o fiz praticamente de tudo. Diga uma fun��o qualquer, qualquer uma, dentro de jornais, revistas, televis�es e r�dios e eu provavelmente a terei exercido nem que seja por alguns dias. Fui dono de ve�culo de comunica��o, fui estagi�rio, fui editor chefe, fui rep�rter, diagramador, ilustrador, fot�grafo, locutor de r�dio, rep�rter de TV.

Ah, sou tamb�m professor de jornalismo. Ali�s, ajudei a criar um dos melhores cursos de jornalismo do Pa�s, o da Universidade Federal de Santa Catarina (melhorou bastante depois que deixei de ser seu coordenador). Sou professor desde 1979, com algumas interrup��es. Dei aula de reda��o, planejamento gr�fico, hist�ria da arte gr�fica, teoria da comunica��o, comunica��o institucional, ensinei at� como fazer uma tabela de pre�os para os servi�os que a gente presta como free-lancer.

A obrigatoriedade do diploma espec�fico de jornalismo, a meu ver, mais atrapalhou que ajudou o desenvolvimento da profiss�o. E a "reserva de mercado" fez proliferar os cursos sem qualidade. Vejam bem: n�o acredito que d� para exercer profissionalmente o jornalismo sem uma prepara��o inicial. Um bom curso superior ajuda bastante. Se for espec�fico, melhor. S� que tem muita gente misturando alhos com bugalhos.

Por exemplo: tem coisas que qualquer um pode fazer. Escrever � uma delas. Estas cr�nicas, as colunas, abundantes nos jornais, artigos, editoriais, s�o coisas que dizem respeito mais � liberdade de express�o que ao jornalismo. Ningu�m precisa ser treinado para escrever cr�nicas.

Mas colocar um jornal, seja impresso, seja de r�dio ou TV, todos os dias, na hora certa, no ar ou na rua, exige conhecimentos t�cnicos. Nada muito glamuroso, nada excepcional, mas � uma opera��o que exige obedi�ncia a uma s�rie de rotinas, conhecimento de uma s�rie de procedimentos, para que, no hor�rio exato, apare�a nas bancas ou nos receptores aquele produto bem feito, bem acabado e at�, em alguns casos, interessante e �til.

Jornalismo, em ess�ncia e resumidamente, � a t�cnica (ou arte) de conhecer um fato, compreender suas circunst�ncias e depois cont�-lo, de tal maneira que quem ouve, l� ou v� o relato, consiga ter uma id�ia bastante aproximada do que realmente aconteceu. N�o �, de fato, uma ci�ncia oculta ou algo extremamente dif�cil. Mas exige t�cnica.

Um acidente banal, numa esquina, � uma coisa simples de se relatar. O carro x vinha pela rua tal, o carro y vinha pela outra rua e um dos dois desobedeceu o sinal de parar, resultando no acidente. Complica um pouco mais quando, na reda��o, temos o relato desse acidente sem v�timas e de um outro, com tr�s mortos: o que publicar e o que n�o publicar? Os jornais, voc�s sabem, t�m limita��o de espa�o ou de tempo.

Os fatos interessantes n�o ocorrem todos os dias nem nos hor�rios mais favor�veis. Mas os jornais t�m que estar na rua ou no ar, todos os dias, no mesmo hor�rio. Como planejar o trabalho de tal maneira que n�o falte assunto para todas as p�ginas ou para todos os minutos do jornal? Como fazer com que as pessoas sintam vontade de sinonizar ou comprar o jornal? Como fazer com que os relatos que apresentamos tenham um equil�brio de assuntos, para atingir a um n�mero grande de pessoas?

Todas essas quest�es exigem, para respostas adequadas, conhecimentos t�cnicos. E s�o esses trabalhadores, genericamente conhecidos como rep�rteres, redatores, editores, secret�rios de reda��o, editores executivos, chefes de reda��o, diretores de reda��o, que fazem jornalismo. Os colunistas, articulistas de opini�o, artistas midi�ticos, performers, o diabo, fazem outra coisa. N�o menor, n�o menos importante. Diferente.

Qualquer pessoa pode fazer um jornal, um programa jornal�stico de televis�o. O resultado pode ser uma experi�ncia amadora ou um produto profissional. Mais ou menos como quando voc� vai fazer aquela pequena reforma em casa. N�o existe reserva de mercado para pedreiros. N�o precisa ter diploma para fazer um muro. Mas a gente sempre prefere aquele profissional respeitado, que j� fez belos muros na vizinhan�a. N�o tem import�ncia que ele cobre um pouco mais caro que o biscateiro que sempre aparece. A gente tem que ter um muro confi�vel, no prumo, que n�o caia sobre nossas cabe�as.

Tem gente que sabe fazer e tem gente que n�o sabe. A obrigatoriedade do diploma camuflou, de certa maneira, a incompet�ncia. Mas n�o podemos chegar ao outro extremo, de achar que pessoas incultas, ignorantes das t�cnicas de apura��o, reda��o e edi��o, possam substituir os profissionais na produ��o de jornais de qualidade. Fazer bons jornais exige um conhecimento que n�o se adquire ao nascer, n�o se transmite por osmose e n�o se aprende vendo como � que faz. Mas naturalmente, como tudo na sociedade capitalista, cabe ao leitor, � leitora, ao espectador e � espectadora, decidir quem vai deixar que entre em casa para contar o que est� acontecendo na sua cidade, no seu pa�s e no mundo. Seria bom, portanto, que os habitantes deste pa�s tivessem escolha. E que todos os ve�culos n�o resolvessem, seja por conten��o de despesas, seja por desprezar a intelig�ncia do consumidor, nivelar por baixo, empregando amadores bem intencionados que trabalham por dois tost�es e produzem jornais que n�o valem um n�quel.

Dica de Carta Aberta


Eu comento:At� que ponto um jornalista � o que �, s� porque tem um diploma em jornalismo ou comunica��o social? Em Portugal, come�a-se a questionar se, para se ser jornalista, tem que se que ter um destes diplomas. Eu pr�prio sou jornalista e licenciei-me em Rela��es Internacionais porque acredito que, acima de tudo, um jornalista deve ter uma bagagem superior, bem como, uma especializa��o noutras �reas que n�o s�o fornecidas pelo curso de jornalismo ou de comunica��o social.
No entanto, at� que ponto os novos conte�dos que existem, n�o s� na Internet, mas tamb�m ligados a essas outras especialidades ir�o colocar em causa o jornalismo e o papel do jornalista, tal qual como o conhecemos? Fico a aguardar os vossos coment�rios.

terça-feira, janeiro 21, 2003

A imparcialidade � um mito?
Quem responde � o jornalista brasileiro Carlos Chagas, entrevistado pela Revista Jur�dica Consulex. Chagas � mais conhecido pelo p�blico como comentarista dos bastidores da pol�tica brasileira na antiga TV Manchete. Confira a resposta que ele d�:

"Por enquanto � uma utopia a conquistar. Na verdade, ningu�m � imparcial. O jornalista n�o � um rob�, uma m�quina que voc� aciona e solta a not�cia ou a interpreta��o. A imparcialidade at� seria prejudicial no mundo de hoje. Talvez, daqui a 200 anos, seja necess�ria, se o mundo mudar. Diante da fuga do Salvatore Cacciola ou do juiz Lalau, por exemplo, n�o d� para ser imparcial. N�o se pode dizer "o juiz est� foragido" friamente. Voc�, na interpreta��o, na entona��o de voz, na express�o e no coment�rio, deve demonstrar que aquele juiz � um ladr�o, precisa ser punido, e o Governo, por sua vez, falha para com a sociedade, porque n�o consegue encontr�-lo"

Dica de urgente.blogspot

E voc�, o que pensa? A imparcialidade � um mito, uma utopia no meio jornal�stico? E, at� que ponto, a imparcialidade, o rigor ou a isen��o, v�o colocar um ponto final no jornalismo?

Coloque seu ponto de vista, clicando em Comentar aqui em cima.
Conte�do monetiz�vel - o fim do jornalismo de qualidade? A busca por mais audi�ncia e receitas imediatas e a ado��o de um racioc�nio t�pico de m�dias de massa para a cria��o de conte�do na Internet pode p�r em risco o jornalismo digital.
Segue um texto de Roberto Cassano. Se quiserem enviar-lhe um e-mail, basta clicar aqui.

"Buzzwords s�o aqueles termos que, de tempos em tempos, monopolizam palestras, semin�rios, reuni�es gerenciais e at� rodas de conversa de profissionais da chamada "Nova Economia". Nosso mercado � repleto deles: "conte�do", "personaliza��o", "usabilidade", "IPO", "marketing de permiss�o", "B2B", "B2C" e, mais recentemente, "converg�ncia de m�dias". Ultimamente tenho ouvido com frequ�ncia um novo termo que soa assustador para quem est� acostumado a trabalhar com jornalismo e produ��o de conte�do de uma forma geral.
Quando se prepara um lan�amento de um produto, n�o basta saber se ele funciona ou se � bonito. � preciso ter em m�os um estudo que garanta que as pessoas v�o querer compr�-lo e que as suas vendas possibilitar�o, cedo ou tarde, o retorno sobre o investimento que os fabricantes tiveram para produzi-lo. � assim que funciona o capitalismo. Com a globaliza��o e a busca desesperada por um modelo de neg�cios s�lido para a Internet, a estrutura de todas as empresas que actuam online (as antigas "pontocom") torna-se similar: um fornecedor e/ou um distribuidor, um produto, e um ou mais mercados consumidores. A grosso modo, o modelo pode realmente ser aplicado a todos, e deve haver sempre dinheiro circulando entre estes elementos desta cadeia produtiva.
Por este ponto de vista, se uma empresa produz conte�do, o conte�do � o produto e ele deve ser, a curto ou m�dio prazo, fonte de receita que garanta lucro aos acionistas da empresa. E ponto final. Existem mil e uma maneiras de se ganhar dinheiro com conte�do, mas tr�s s�o os modelos mais �bvios: com publicidade, com assinatura, ou com um misto de ambos.
A actual massa de usu�rios da Internet, chamada pelos t�cnicos de "usu�rios de banda estreita", decididamente n�o est� interessada em pagar por 90 por cento do conte�do dispon�vel na Rede, por motivos que, por si s�, j� valeriam um artigo inteiro. Resta a alternativa da publicidade, fonte que secou, transformando-se de um Amazonas para um Saara em menos de seis meses. E a�? Quem est� fora dos o�sis que restaram, pode optar por fechar as portas ou mudar o modelo de neg�cio.
Para estes, a esperan�a � a "banda larga", que teoricamente exigir� uma mudan�a de mentalidade por parte dos usu�rios, como na rela��o TV Aberta versus TV por assinatura. Se o conte�do passar� a ser "vendido" para os usu�rios, ele precisa ser um "conte�do monetiz�vel". Esta � a buzzword que tanto me preocupa. E enquanto a banda larga n�o chega, a monetiza��o deste conte�do precisa ser feita, ainda, via publicidade, o que leva � exig�ncia de um aumento signigicativo da audi�ncia.
Exemplos claros da exig�ncia de monetiza��o do conte�do podem ser vistos na programa��o dominical das emissoras de TV aberta. Seu conte�do pobre, sempre na t�nue fronteira entre �tica e sensacionalismo, e sem nenhuma qualidade e informa��o relevante, s�o frutos do chamado "efeito Ibope". Se salas de chat, canais de sexo e jogos representam o grosso da audi�ncia dos principais portais brasileiros, quem investir� na produ��o de um jornalismo digital inovador, por exemplo?
� claro que este "efeito Ibope" atinge principalmente os grandes portais horizontais, mas s�o justamente estes que respondem por quase a totalidade dos "page views" gerados no Brasil. Seguindo o exemplo da TV aberta, poderia deduzir-se que conte�do bom gera renome enquanto conte�do pobre gera audi�ncia (e publicidade). Na luta por melhores resultados financeiros, pode-se esperar uma brutal queda de qualidade nos sites da Internet, com resultados question�veis. � muito dif�cil definir com clareza um "conte�do monetiz�vel", principalmente se caminhamos para uma efectiva realidade de comunica��o "1 para 1", em contraposi��o ao broadcast da TV. Se o objectivo � tratar o internauta como indiv�duo, como rotular o conte�do que ele assiste? E tratar a Internet como m�dia de massa (o que ela definitivamente n�o �) resolve o problema, mesmo a curto prazo?
� importante ressaltar que o debate sobre que conte�dos s�o monetiz�veis na Internet est� apenas come�ando, e ele dever� incluir outros aspectos sobre perfil do p�blico, capacidade de cada fatia do mercado de gerar outras fontes de receita al�m do "click through", como assinaturas ou e-commerce, tempo, personaliza��o etc. O fundamental, por agora, � come�armos a pensar em alternativas e solu��es, com foco no produto, para apresentar aos nossos acionistas e CEOs, que tem foco no neg�cio. E precisam mais � monetizar."


De igual forma se pergunta: at� que ponto os novos conte�dos na Internet ir�o colocar em causa o jornalismo e o papel do jornalista, como o conhecemos.

Para aceder � p�gina onde este texto foi publicado, clique aqui.

quinta-feira, janeiro 16, 2003

Camila Barbieri � estudante de Jornalismo no Brasil e colocou no meu livro de visitas, o seguinte coment�rio, que aqui reproduzo:


"Como estudante de jornalismo, eu espero sinceramente que a internet seja uma aliada.N�o acredito no fim do jornalismo, acredito que a qualidade tenha ca�do, mas a arte da boa reportagem n�o vai acabar. � verdade que as escolas de comunica��o est�o lotadas de gente que s� pensa em aparecer na tv. Quer dizer, na globo. E tem muita gente pra consumir esse modo de passar informa��es, digamos assim. Obviamente h� quem procure mais. H� p�blico para mais. A internet, para quem precisa, � uma fonte r�pida de informa��es, traz um leque imenso de op��es... � claro que � preciso ficar de olho na autenticidade, mas a web n�o vai acabar com o jornalismo... ao menos, enquanto houver gente preocupada com a qualidade do jornalismo e sua manuten��o".

Para enviarem um coment�rio via email para a Camila, podem clicar aqui. Para acederem ao seu weblog, cliquem aqui.

terça-feira, janeiro 14, 2003

O artigo que se segue � de autoria de J. A. Pereira e foi publicado na edi��o de Novembro e Dezembro de 2002, do Boletim Municipal da C�mara Municipal de Penedono.

O meu coment�rio est� logo a seguir.

A Imprensa Regional

A �poca em que vivemos ser� recordada, certamente, pelos vindouros que estudar�o a Hist�ria, como a era at�mica, mas vista pelo aspecto pol�tico-social, ser� definida como a era dos mass-media, isto �, os meios de massas e de comunica��o social. Estes s�o, de facto, a grande for�a no nosso tempo e da nossa vida. E s�o muitos e variados estes meios, desde a comunica��o oral, a televis�o, a r�dio, a confer�ncia, � comunica��o escrita, com jornais di�rios nacionais, revistas, seman�rios de grande tiragem, at� � imprensa regional.
� uma barafunda com todos estes mass-media a dar-nos cabo da cabe�a e a deixar-nos cada vez mais confusos.
Cada um deles precisaria da sua an�lise cr�tica. Mas deixemos isso, que � muita �areia para a nossa camioneta�. Viremo-nos apenas para a empresa regional.
Ela existe desde longa data. Sempre houve e agora est� mais divulgada. A imprensa regional est� mais perto de n�s, mexe mais connosco, relata factos pr�ximos, fala-nos de assuntos locais ou regionais, colaboram nela pessoas nossas conhecidas, e muito mais e, isso, convida-nos � sua leitura.
T�m chegado at� n�s testemunhos como este: �n�o posso com os jornais di�rios; mas quando recebo os jornais da nossa regi�o, at� os an�ncios leio�. Ora, aqui temos um meio de comunica��o privilegiado para levar as nossas mensagens a todos os leitores.
Mas h� imprensa regional que se enquadra, perfeitamente, nas caracter�sticas objectivas e princ�pios que nos dizem alguma coisa. Nas esque�amos que a boa imprensa regional deve instruir, estimular, formar, modelar, esclarecer, entre outros. Formar, custa mais que deformar. A mensagem mentirosa passa mais facilmente do que a mensagem verdadeira. Informar com rectid�o, seriedade e honestidade � mais dif�cil do que informar com mentiras, com inventos maquiav�licos, deturpando realidades e acontecimentos que tiveram a sua �poca e que aconteceram sempre com a boa inten��o de ajudar o pr�ximo.
Agora vale tudo. E s� n�o se tiram olhos porque as pessoas os protegem. N�o est� bem. A imprensa regional e felizmente que ainda temos muitos e bons exemplos, continua a ser um baluarte indiscut�vel na boa forma��o e informa��o. Exige muita doa��o, sacrif�cio e tempo aos seus respons�veis, mas vale quando se colhem os frutos de boas sementeiras.
E, quando assim �, n�o s�o precisos de ningu�m para assegurar a sua subsist�ncia e periodicidade. Bastam-se a si pr�prios. E n�o acabam com a publica��o como tem acontecido com alguns aqui � nossa volta.
Imprensa regional, sim e muita, mas s�ria, isenta, vertical, boa mensageira, que dignifique os seus promotores e, essencialmente, os seus leitores que, certamente, j� n�o s�o passivos e acr�licos. A conjuntura pol�tico-social actual assim o exige.
Ofender, n�o � apan�gio dos bons jornalistas regionais.

Eu comento:

Numa altura em que o jornalismo est� em crise, como que por arrasto, tamb�m a imprensa regional � afectada. Como s�o �rg�os de informa��o mais pequenos, as dificuldades chegam-lhes mais depressa. Apesar de o n�mero de funcion�rios que trabalha num jornal regional ser menor do que os que trabalham num jornal nacional, os seus p�blicos tamb�m s�o mais pequenos e, a sua �rea de interven��o, tamb�m o �.
Por conseguinte, as empresas que podem anunciar e publicitar nesses jornais, tamb�m s�o menos. Da� que, para poderem sobreviver, a �nica forma que os seus directores encontraram, s�o os subs�dios de entidades locais, como sejam as c�maras municipais. Por conseguinte, quase que como por obriga��o, em nome desse subs�dio que lhes permite imprimir mais umas edi��es, relegam-se os verdadeiros problemas de uma regi�o para segundo plano, por forma a n�o se entrar em choque com o poder local.
S�o muitos os exemplos de directores processados, de jornais condenados a pagar indemniza��es, dada a publica��o desta ou daquela hist�ria que envolveu um qualquer vereador, um qualquer presidente de c�mara, de junta de freguesia ou um qualquer empres�rio local.
Todos sabemos que os crit�rios por que o jornalista se rege (ou se deveria reger), n�o mais s�o tidos em conta. Seriedade, isen��o, rigor, credibilidade, e bom nome, s�o conceitos que, para se vender esta ou aquela hist�ria, deixam-se para tr�s. N�o � que, n�s jornalistas, os n�o tenhamos; temos � um director ou um editor que assim o exige. Como refere J. A. Pereira, �ofender, n�o � apan�gio dos bons jornalistas regionais�. Retiro, a esta frase, a �ltima palavra: ofender, n�o � apan�gio dos bons jornalistas. Por vezes, o que acontece � que, em nome da sobreviv�ncia de um jornal regional (e nacional, tamb�m), se lancem tiros no escuro para, dessa forma, se vender mais do que o que se vende.
Por outro lado, o copy e o paste de portais de not�cias para serem publicados nos jornais regionais � uma constante. Muitos jornais regionais funcionam com meia d�zia de pessoas que, para al�m de redigirem os textos, fazem a pagina��o do jornal, angariam publicidade e ainda fazem a sua distribui��o.

De igual forma questiono:

Ser� que a imprensa regional tem o seu futuro assegurado? Ou ser� uma quest�o de tempo at� que, um a um, acabem por ter que fechar?

Para enviarem um mail para J. A. Pereira, o autor deste texto, basta clicar aqui.

segunda-feira, janeiro 13, 2003

T�m surgido alguns coment�rios interessantes no f�rum que eu criei. Se quiserem aceder � p�gina inicial do f�rum basta clicar aqui. Entretanto, vou colocando aqui alguns coment�rios que eu acho interessantes.
Este � um deles e traduz-se na opini�o de uma jornalista brasileira acerca do papel dos jornalistas e da internet nos dias de hoje.

Acredito que os jornalistas s�o formadores de opini�o e como toda profiss�o est�o vivendo um momento de reciclagem. A internet n�o funciona sozinha, algu�m tem que escrever uma not�cia. Conforme falei na resposta que dei ao Carlos, o jornalismo como qualquer outra profiss�o sofreu um decl�nio. Sou jornalista e presencio que falta espa�o pra profiss�o, pois muitos se apoderam do nosso ramo sem ter forma��o para isso e tamb�m os sal�rios est�o muito defasados. O glamour do jornalismo est� em Bial, Gl�ria Maria, isso � minoria. A maioria dos profissionais trabalham em jornais, muitas vezes arriscando suas vidas e n�o s�o valorizados por isso e al�m de tudo deixaram de escrever por ideologia, pra poder, por quest�o de sobreviv�ncia, atender aos interesses do ve�culo que trabalha.

Para enviarem um mail para a a Renata, a autora deste coment�rio, basta clicar aqui.

quinta-feira, janeiro 02, 2003

Interactividade: A grande promessa do Jornalismo Online

Vale sempre a pena dar uma olhadela num texto que a Dra. Elisabete Barbosa tem publicado acerca do papel da Internet do Jornalismo de hoje. A Dra. Elisabete Barbosa � ex-jornalista e interessa-se por jornalismo digital.

O endere�o �: http://www.bocc.ubi.pt/pag/barbosa-elisabete-interactividade.pdf
O papel do jornalista

Um jornalista n�o � um novelista, ainda que devese ter, para contar, o mesmo talento e a mesma gra�a dos melhores romancistas. Uma boa reportagem t�o pouco � um tipo de literatura, ainda que devesse ter a mesma intensidade de linguagem e a mesma capacidade de sedu��o dos grandes textos liter�rios. E, para ir ainda mais longe e ser mais claro do que acredito ter sido, um bom jornal n�o deveria estar cheio de grandes reportagens bem escritas, porque isso condenaria os seus leitores � satura��o.
Mas, se os leitores n�o encontram todos os dias, nos jornais que l�em, uma reportagem, uma �nica reportagem, que os hipnotize tanto como para que cheguem tarde ao seu trabalho, ent�o n�o ter�o por que atirar a culpa � televis�o ou � Internet dos seus eventuais fracassos, se n�o � sua pr�pria falta de f� na intelig�ncia dos seus leitores.

Antes, os jornalistas de alma sonhavam em escrever o romance da sua vida, ainda que fosse apenas um; agora, os novelistas de alma sonham em escrever uma reportagem ou uma cr�nica, t�o inesquec�veis como um belo romance. O problema est� em que os romancistas o fazem e, os jornalistas, ficam-se apenas pela vontade.
Seria preciso incit�-los, portanto, a que realizem essa frustra��o nas p�ginas dos seus pr�prios jornais, contando as hist�rias (ou est�rias) da vida real com assombro e plena entrega do ser, com a obsess�o pelo dado preciso e a paci�ncia de investigadores que caracteriza os melhores novelistas. N�o estou a preconizar que se escrevam novelas nos jornais. Nada disso. E menos ainda que se use a linguagem florida e adjectivada � que recorrem os jornalistas que se improvisam como novelistas da noite para o dia. T�o pouco defendo a ideia de que o mediador de uma not�cia se converta no protagonista. Claro que n�o.
Um jornalista que conhece o seu leitor jamais se exibe.
Estabelece com ele, desde o princ�pio, o que eu chamaria de um pacto de fidelidades: fidelidade � pr�pria consci�ncia e fidelidade � verdade. A avidez de conhecimento do leitor n�o se sacia com o esc�ndalo, mas com a investiga��o honesta; ela n�o � aplacada com golpes de feito, mas com a narra��o de cada facto dentro do seu contexto e dos seus antecedentes. Ao leitor, n�o se oferecem fogos de artif�cio ou den�ncias estrepitosas que se desvanecem no dia seguinte, mas sim, respeita-se com a informa��o precisa. Cada vez que um jornalista atira lenha ao fogo f�tuo do esc�ndalo, est� apagando com cinzas o fogo genu�no da informa��o.
O jornalismo n�o � um circo para se exibir, se n�o um instrumento para pensar, para criar, para ajudar o homem no seu eterno combate por uma vida mais digna e menos injusta.
Tudo isto, para reafrirmar o que anteriormente j� aqui foi dito: o que tende a acabar � o bom jornalismo feito por bons jornalistas...
O admir�vel novo jornalismo

Uma revolu��o silenciosa est� a ocorrer na imprensa, h� j� algumas d�cadas e o seu culminar n�o est� longe. Trata-se do fim do jornalismo tradicional e o surgimento de um h�brido que incorpora mecanismos da publicidade, bem como do entretenimento.

N�o vem ao caso, aqui, se as publica��es t�m cada vez mais an�ncios, se utilizam recursos superficiais da forma publicit�ria ou se est�o menos cr�ticas em rela��o a certos processos, produtos e personalidades, tornando-se assim agentes indiretos de divulga��o.
O que interessa � apontar como a publicidade, com as suas normas e sistemas para vender um produto, se infiltrou nos organismos jornal�sticos e transformou a imprensa em outra coisa: em "publijornalismo", para cunhar um neologismo provis�rio.
Essa muta��o presume que todos os elementos morais ou transcendentes agregados ao jornalismo ao longo da sua hist�ria j� se extinguiram ou est�o em via de chegar ao fim. Ou seja, presume que o jornalismo j� n�o se alimenta dos chamados valores superiores por meio dos quais ele se colocava como consci�ncia da realidade e fazia da pr�pria realidade um objecto que devia decifrar.
No interc�mbio realidade-jornalismo, o leitor ocupava o lugar de espectador passivo, sobre o qual a imprensa exercia um poder de influ�ncia, den�ncia ou esclarecimento. Eram sobretudo os leitores que aderiam aos jornais, e n�o vice-versa. A ades�o do leitor �s publica��es era de feitio ideol�gico (fossem as publica��es pluralistas ou n�o) ou de gosto e posi��o de classe (fossem de elite ou populares).
O jornalismo p�de-se manter, assim, no bojo do capitalismo (que, ali�s, lhe deu a configura��o primordial), como um produto excepcional: nem tanto mercadoria nem tanto cultura, mas uma mercadoria ideol�gica.

Admir�vel meio novo, o "publijornalismo" n�o v� no que faz outra coisa sen�o um produto. A no��o de mercadoria � generalizada dentro das publica��es e atinge todos os seus processos, mesmo os que dizem respeito �s iniciativas de cr�tica, de explica��o, elucida��o, investiga��o ou contesta��o pr�prias da imprensa.

O "publijornalismo' s� contesta, elucida ou investiga porque est� vendendo um melhor produto e vendendo a si mesmo o tempo todo, e n�o porque julga, como seu antepassado (o jornalismo), que estar� tamb�m influindo numa determinada realidade ou cumprindo um papel cultural ou ideol�gico numa sociedade.
A informa��o como produto, puro e simples, n�o significa que o valor simb�lico da not�cia tenha sido abandonado: o pr�prio conte�do passou para a escala do consumo, e o acontecimento tornou-se apenas uma mercadoria aos olhos da rede universal do "publijornalismo" e sua espectaculariza��o da realidade.
A imprensa ainda vive essa situa��o como um problema, mas logo o drama chegar� ao fim.