Saramago questiona
Independência do Jornalismo
Independência do Jornalismo
O escritor português José Saramago questionou ontem em Santander, Norte de Espanha, a independência do jornalismo. Segundo o Prémio Nobel da Literatura, nenhum trabalho é independente e não se pode falar de independência do jornalismo.
O autor de "Memorial do Convento" falava no âmbito do seminário "A imprensa, questionada. Uma análise da aventura informativa", organizado pela agência de notícias espanhola EFE e a Universidade Menéndez Pelayo.
Na sua conferência, intitulada "Informação, a quadratura do círculo", Saramago afirmou que é impossível a informação total e a objectividade, tanto no jornalismo como em qualquer actividade humana. "Acreditar que 'um facto é um facto' e que com isto se fecha a porta, que a subjectividade está excluída, é um erro, porque se a linguagem é um exemplo de subjectividade e só com a linguagem se pode explicar um facto, já está aí a subjectividade".
De igual forma opinou que a frase "uma imagem vale mais que mil palavras" não é correcta, pois que o acto de fotografar se faz de forma distinta segundo o ângulo e a luz. "A fotografia surge num quadrado e parece que o mundo termina ali, e o que se faz é subjectivar a imagem", explicou.
A informação, afirmou o antigo jornalista, é subjectiva na sua origem, na transmissão e na recepção. "A mesma mensagem terá tantos significados quantos sejam os seus receptores", disse.
José Saramago criticou também os "criadores de opinião" e questionou o direito que "tem um senhor ou uma senhora de acreditar que por escrever uma coluna temos de acreditar que é verdade o que diz".
O autor de "Jangada de pedra" referiu também a "relação de cumplicidade" entre os políticos e a imprensa. "Não se fala do cordão umbilical que une a imprensa às empresas. Nenhum jornal pode recusar publicidade, pelo que é certo que os jornais servem para vender clientes aos anunciantes, sejam os anúncios grandes ou pequenos".
Relativamente à independência dos jornalistas, o Nobel português afirmou que, na realidade, há que falar da "infelicidade dos profissionais" estarem conscientes que estão a ser utilizados. "Entre o chefe e o patrão, o jornalista gasta a melhor parte da sua vida em saber se está a dar a informação que quer o 'guia'". "É como um camaleão que tem de disfarçar o que pensa pela cor do meio onde trabalha. Na realidade gostaria de não ter opinião para que fosse menos doloroso mudar as suas ideias pelas dos outros", prosseguiu Saramago.
Sobre a televisão afirmou que "se alimenta de consciências" e considerou a contínua repetição que faz da imagens "acaba com a emoção".
Fonte: Público
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O autor de "Memorial do Convento" falava no âmbito do seminário "A imprensa, questionada. Uma análise da aventura informativa", organizado pela agência de notícias espanhola EFE e a Universidade Menéndez Pelayo.
Na sua conferência, intitulada "Informação, a quadratura do círculo", Saramago afirmou que é impossível a informação total e a objectividade, tanto no jornalismo como em qualquer actividade humana. "Acreditar que 'um facto é um facto' e que com isto se fecha a porta, que a subjectividade está excluída, é um erro, porque se a linguagem é um exemplo de subjectividade e só com a linguagem se pode explicar um facto, já está aí a subjectividade".
De igual forma opinou que a frase "uma imagem vale mais que mil palavras" não é correcta, pois que o acto de fotografar se faz de forma distinta segundo o ângulo e a luz. "A fotografia surge num quadrado e parece que o mundo termina ali, e o que se faz é subjectivar a imagem", explicou.
A informação, afirmou o antigo jornalista, é subjectiva na sua origem, na transmissão e na recepção. "A mesma mensagem terá tantos significados quantos sejam os seus receptores", disse.
José Saramago criticou também os "criadores de opinião" e questionou o direito que "tem um senhor ou uma senhora de acreditar que por escrever uma coluna temos de acreditar que é verdade o que diz".
O autor de "Jangada de pedra" referiu também a "relação de cumplicidade" entre os políticos e a imprensa. "Não se fala do cordão umbilical que une a imprensa às empresas. Nenhum jornal pode recusar publicidade, pelo que é certo que os jornais servem para vender clientes aos anunciantes, sejam os anúncios grandes ou pequenos".
Relativamente à independência dos jornalistas, o Nobel português afirmou que, na realidade, há que falar da "infelicidade dos profissionais" estarem conscientes que estão a ser utilizados. "Entre o chefe e o patrão, o jornalista gasta a melhor parte da sua vida em saber se está a dar a informação que quer o 'guia'". "É como um camaleão que tem de disfarçar o que pensa pela cor do meio onde trabalha. Na realidade gostaria de não ter opinião para que fosse menos doloroso mudar as suas ideias pelas dos outros", prosseguiu Saramago.
Sobre a televisão afirmou que "se alimenta de consciências" e considerou a contínua repetição que faz da imagens "acaba com a emoção".
Fonte: Público
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