terça-feira, abril 01, 2003

Interessante este texto do jornalista Il�dio Martins, publicada no seu site, em Dezembro de 2000. Apesar de estar um pouco desactualizado, a sua ess�ncia mant�m-se.

PRODUTORES DE CONTE�DO

Poucos dias ap�s um jornalista ter sido morto a tiro e outro agredido, ambos em Mo�ambique e por "falarem demais", o doutor Balsem�o veio defender, no "P�blico", "a necessidade de haver concentra��o da propriedade dos media em Portugal". "Existem grupos a mais" no mercado portugu�s dos media, disse ele. A declara��o de Balsem�o surgiu poucos dias ap�s ser conhecido o controlo da Lusomundo por parte da Portugal Telecom, passando a empresa controlada pelo Estado a deter, entre outros, o "Jornal de Not�cias", "Di�rio de Not�cias", "24Horas", "Tal & Qual", "Grande Reportagem" e "TSF". Dois dias antes da declara��o de Balsem�o, Vicente Jorge Silva, no "Di�rio de Not�cias", disse o seguinte: "A uniformiza��o e estandardiza��o dos 'conte�dos' (...) tender� a esvaziar os produtos jornal�sticos da sua componente informativa, convertendo-os em meras mercadorias para clientelas cada vez mais segmentadas". Disse mais o colunista do "DN": "Os jornalistas ceder�o o lugar a formatadores de receitas, agentes de marketing, publicit�rios e psic�logos de bazar". Vicente Jorge Silva s� n�o disse, pelo menos directamente, que a concentra��o da propriedade dos media em meia d�zia de m�os � a nova forma de matar o jornalismo e, por consequ�ncia, os jornalistas.
Exagero? N�o, n�o �. A concentra��o dos media tende a acabar com a diversifica��o dos conte�dos informativos, j� que, em nome do "aproveitamento das sinergias", o mesmo jornalista passa a distribuir a mesm�ssima informa��o para diferentes publica��es. Deve ser por isso, ali�s, que hoje se fala cada vez menos em jornalismo e cada vez mais em "produ��o de conte�dos", evidentemente que muit�ssimo mais abrangente e onde cabe tudo. De facto, � cada vez mais evidente que nem "tudo vai pelo melhor" no jornalismo europeu, como diz J. M. Nobre Correia ("Medianapolis" de 8 de Dezembro). E n�o s� no jornalismo europeu, como se calcula. Diz Nobre Correia que existe "confus�o" entre "informa��o e promo��o comercial" devido a "complac�ncia com ac��es desencadeadas por ag�ncias de promo��o e eventos em prol de um ou outro grupo de neg�cios". E cita exemplos de jornais belgas para fundamentar a sua tese, que ter�o brindado os seus leitores com assuntos de primeira p�gina "dificilmente conceb�veis h� poucos anos atr�s". Referia-se ele a campanhas publicit�rias de uma cadeia de armaz�ns e de uma consola de jogos, ao lan�amento do �ltimo disco de um cantor e ao �ltimo filme da Disney. Tudo assuntos que mereceram primeira p�gina e, segundo ele, mais ou menos disfar�ados de not�cia. Ora aqui est� um bom exemplo dos tais "agentes de marketing" e "publicit�rios" de que fala Vicente Jorge Silva, sem d�vida resultante da concentra��o da propriedade dos media em dois ou tr�s grupos econ�micos que s�o, quase sempre, detentores de interesses noutras �reas de neg�cio que n�o os media.

Dica de: Il�dio Martins

Escusado ser� perguntar: at� quando o jornalismo vive?

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